Os modelos políticos institucionais adotados a partir de 1985 encontraram nas manifestações de junho (2014) uma de suas crises mais agudas. Entre toda a sorte de pautas e demandas que se sobrepuseram ás do Movimento Passe Livre, a luta pela participação democrática parecia de longe um ponto de convergência. Da parte do Estado e de seus aparelhos, repressão violentas e outras barbáries mostram que as raízes da ditadura permanecem sólidas e não se contentam com o subsolo da politica.
Lembremos-nos de que um dos principais objetivos da ditadura era a extinção de
pensamento político, seja por meio da suspensão de direitos, seja da eliminação física da dissidência. E isso estende-se à produção intelectual, artística e científica.
Ensinar democracia e seus valores num país que ainda tem fortes resquícios de modelos de repressão é algo ainda não muito  claro. Como resposta ao novo contexto histórico pós -ditadura, mantivemos-nos no plano da simulação. De fato, para muitos, ensinar às crianças e aos adolescentes os valores democráticos e suas possibilidades ainda consiste em simular, em condições controladas, modelos limitados de participação, diálogo e decisão coletiva. A simulação de processos eleitorais é a mais óbvia delas, mas há outras mais sutis. Trata-se de criar situações quem impelem ao diálogo mas que ao mesmo tempo o aprisionam  num simulacro de participação, evitando, por exemplo, que as decisões tomadas nesse processo tenham consequências reais na vida escolar.
A escola brasileira não sofre de problemas diferente do que está posto nas ruas, nem em proporção nem em  complexidade, talvez por isso não deva ficar tão distante de seus apontamentos. Construir a democracia no Brasil passa pelas questões de como construí-la na escola e pela revisão do modelo e da função da própria escola diante das expectativas democráticas. O paradigma da simulação chegou ao seu limite, pois democracia não consiste apenas em uma série de regras e normas de conduta.
Não se pode criar um ambiente democrático de aprendizagem em condições de  autoritarismo e burocratização extrema, situação de grande parte das escolas brasileiras. Igualmente, democracia não pode ser um discurso, mas uma prática efetiva, contraditória, conflituosa, dialógica, que coloca em xeque as relações de poder na própria escola, na própria sala de aula. O grande desafio é sensibilizar-se a isso.  Pensar na consolidação de um sistema democrático é pensar na consolidação de uma vivência democrática na escola e vice-versa.

Texto de  Leonardo França. Integrante do coletivo organizador do Simpósio dos Pensadores Periféricos.

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